quinta-feira, 16 de junho de 2011

Por medo de amar


Foto capturada de vídeo: Maksuel Martins


Por medo de amar

Se eu gritar a dor 
Desse amor que me consome
Vou ensurdecer seus ouvidos
Quebrar sua taça de vinho
E misturar os cacos ao meu coração quebrado

Se eu deixar correr esse rio
Que molha meu rosto
Posso achar as curvas do seu corpo
E me perder nesse mar

Perder o ar
E voltar à vida com seu beijo

Se eu gritar a dor
Desse amor que me consome
Nada serei
Além de um homem que enlouqueceu
Você nem vai me escutar

E se eu me calar, não serei louco
Apenas um tolo
Que se recolhe ao nada
Por medo de amar

Por Mary Paes Santana

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O casaco de lã

Imagem do blog: http://tudehistoria.blogspot.com



Nunca achei que fosse viver muito. Quando criança ouvia conversas na sala... “esta menina é muito doente...” eu achava que iria morrer. Sempre doente...  Sempre magra... Cheia de complexos, de medos da vida, das pessoas, das coisas...

Tinha um amigo que se chamava Miguel...  Ele tinha os olhos grandes e verdes, cabelo liso, negro, caído sobre a testa alva, parecia um anjo.  Sempre aparecia quando eu estava triste.  
Miguel quase nunca falava e eu também não. Não precisávamos de palavras para nos comunicar. Ficávamos lá no canto do “salão”, uma sala grande onde meus pais promoviam bailes aos sábados... Durante a semana o espaço era silencioso e às vezes sombrio.  

Miguel me trazia um caderno velho, de capa dura, também trazia um lápis, colocava-o entre os meus dedos...  Aos cinco anos aprendi a ler e escrever, sem nunca ter ido à escola até aquela idade.

Não fui aceita no pré-escolar, estava adiantada. Fui para a primeira série... Lá todos pareciam melhores do que eu... As meninas bonitas, com seus cabelos sedosos, enfeitados com laços... E vestidas tão lindamente, como as bonecas que um dia eu quisera ter. Não era feliz ali. Sentia um medo inexplicável.

Mas, mesmo que eu me sentisse triste,  Miguel nunca me visitava na escola. E eu nunca perguntei por quê.

Pouco me recordo de minha infância... Além de me sentir meio só... Lembro do frágil sol de inverno e do vento soprando, gelando meus dedos... E do casaco de lã... Íamos, eu e Miguel... Deitávamos no gramado do lado de casa, pra sentir o sol aquecer nossos rostos...

Sinto saudades do cheiro do casaco de lã, um cheiro ilusório... Não me lembro quando foi que perdi o olfato... Minhas reminiscências me confundem às vezes...
Também não me lembro quando foi exatamente que Miguel afastou-se de mim... ou eu dele...
Acho que cresci, e me tornei estúpida demais para acreditar em amigos imaginários. 

Por Mary Paes


terça-feira, 7 de junho de 2011

Delírios

            Foto: Maksuel Martins 
 

Minha pele queima, num desejo ilógico
Sem satisfação... Entre quatro paredes
Sou apenas um, e toco a cama fria
Querendo ir além da minha solidão
E curar esta febre que a paixão me causa

Mas, estou só... Possuo o tempo, a noite
e o pensamento... Mas, não sou dono de você
E nem por um momento te possuo, além do sonho
E se te vejo entrar... Sorrir pra mim...
E antes que me toque, sei que deliro

E se não me satisfaço, tudo que me sobra,
Ainda  é o tempo... E todo o espaço, pra chorar
A minha solidão... 
E a falta completa de você.

Por Mary Paes Santana 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Entre Parênteses (...)

Foto de celular: Maksuel Martins


Sou um poeta perdido neste tempo tão estranho
Poeta sem morada...
Andarilho desses caminhos tortuosos
Riscados a lápis, ocupando  espaços em branco ...
Que nada significam para quem só entende o óbvio

Sou um poeta sem nome
Sem registros, sem marcas, sem lembranças...
Um "Autor Ignorado", entre parênteses.


Por Mary Paes